quarta-feira, 17 de maio de 2017

Ato de resistência dos torcedores gera lucro à FPF e CBF

POR ROBERTO MAIA

 Em São Paulo, sinalizadores são usados em nome da resistência dos 
torcedores ao “futebol Moderno” (Foto: Tino Simões)
Jogadores, torcedores e imprensa costumam dizer em suas resenhas que o futebol está ficando chato aqui no Brasil. Dentro e fora dos gramados. E eu concordo. Está bem chato mesmo. Dentro das quatro linhas são raros os jogos com dribles, times montados para atacar, gols oriundos de jogadas trabalhadas, etc.

E quando um jogador marca um golaço, decisivo, ele não tem nem o direito de comemorar junto com sua torcida. Se comemorar próximo da torcida adversária dirão que ele está provocando. E se ousar tirar a camisa, cartão amarelo para ele. Triste tudo isso.

Nas arquibancadas então o negócio está cada vez pior. Enquanto na Europa a torcida é parte integrante do show em que se transformaram os jogos de futebol, aqui no Brasil parecem que a querem longe dos estádios.

Melhor exemplo europeu são os jogos do Borussia Dortmund, na Alemanha. Em 2016, a torcida aurinegra teve a maior presença de público do mundo, com a impressionante média de 81,3 mil pagantes nos jogos realizados em seu estádio, o Signal Iduna Park. A marca foi superior à média de 76,5 mil torcedores do Barcelona no Camp Nou e de 75,3 mil dos torcedores do Manchester United, no Old Trafford.

Torcedores do Borussia Dortmund fazem os mosaicos mais belos dos 
estádios do mundo (Foto: reprodução/Facebook Borussia Dortmund) 
Não vou entrar no mérito da qualidade dos times e jogos, nem falar sobre a segurança ou poder aquisitivo dos torcedores lá no velho continente. Foco apenas no fato que as autoridades europeias e os dirigentes dos clubes entenderam que o futebol é uma importante fonte de renda e deve ser tratado como um negócio. E os torcedores são antes de tudo considerados clientes e, portanto, devem ser bem tratados.

Não é o que acontece por aqui. Na grande maioria dos estádios brasileiros, torcedores são tratados como gado e sujeitos a todo tipo de maus tratos. Desde o acesso aos campos até às condições das instalações.

Totalmente liberados na Europa, mosaicos são proibidos nos estádios 
paulistas em nome da segurança (Foto: Tino Simões)
Ao falar do Borussia Dortmund lembrei também dos incríveis mosaicos realizados pelos seus torcedores. Certamente são os melhores do mundo devido à riqueza de detalhes. Aqui no Brasil, a moda chegou e muita coisa bonita aconteceu nos estádios. Principalmente no Rio de Janeiro, onde a festa dos torcedores ainda é permitida.

Em São Paulo, Corinthians e Palmeiras também já apresentaram lindos mosaicos em seus estádios. Mas não é que a Polícia Militar resolver proibir esse tipo de manifestação em nome da segurança! Ponte Preta e Corinthians foram proibidos de fazer mosaicos nos jogos finais do Paulistão. Qual seria o perigo que representaria? E por que proibiram agora se antes outros foram permitidos? Difícil entender a lógica.

Outro artefato proibido foram os sinalizadores. Esses, não pela PM, mas pela Federação Paulista de Futebol (FPF) e pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Os árbitros foram orientados a paralisarem os jogos e anotarem nas súmulas quando torcedores acenderem os “perigosos” sinalizadores. Coloquei entre aspas porque esses sinalizadores usados não são do mesmo tipo daquele que matou um garoto em jogo do Corinthians na Bolívia. Os que geram uma luz avermelhada são usados até por crianças em festas juninas. E são pequenos, o que dificulta ainda mais a apreensão pelos policiais.

Sinalizadores foram proibidos não pela PM, mas pela FPF e pela CBF 
(Foto: Tino Simões)
Enquanto integrantes das torcidas organizadas enxergam nesses sinalizadores um gesto de resistência e de repúdio ao que chamam de futebol moderno, FPF e CBF lucram com as pesadas multas aplicadas aos clubes. Isso quando os tribunais não os punem com a perda de mandos de jogos, obrigando-os a jogar longe da sua sede e gerando outras despesas.

E os clubes por que não reagem e aceitam pacificamente tudo o que está acontecendo? Afinal, são eles que levam os maiores prejuízos. Rabo preso com as federações? Pode ser, afinal o que explicaria tamanha passividade. 


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